segunda-feira

Um judeu no bairro

Moro no Brooklin há menos de dois anos e fiquei surpresa, hoje, ao ver um jovem de barba longa vestindo calças pretas, camisa branca, guarda pó preto e chapéu preto caminhando por aqui. Sem dúvida alguma era um judeu. O moço carregava, na altura do ombro, uma assadeira coberta com um pano de prato branco. Minha ignorância sobre a culinária judaica me fez pensar que levava burecas. Mas, burecas para quem?
Era a primeira vez que um judeu, vestido como um judeu ortodoxo se fazia ver nesses cruzamentos de ruas com nome de Califórnia, Miami, Nova Iorque, Indiana. De onde ele teria surgido e para onde iria?

Até hoje o Brooklin era um bairro de famílias vestidas sem extravagância. Talvez no bairro de Nova Iorque, judeus ortodoxos sejam mais comuns, mas no Brooklin de São Paulo eles são uma raridade. Talvez estejam cansados de morar em Higienópolis, nos Jardins, no Bom Retiro e pretendam se mudar para a Zona Sul. Se esse movimento migratório acontecer terá um impacto considerável sobre a região. Será que os imóveis seriam valorizados?

A cara do bairro iria mudar. Uma Deli aqui, uma sinagoga acolá e de repente passaria por mim um par de amigos vestidos de calças pretas e camisa branca, de quipá, em silencio, lado a lado, em direção a um destino misterioso. Outra hora passaria uma família inteira, o patriarca com chapéu preto alto, a mãe de saias abaixo do joelho e meia calça, as crianças imitando os pais. Sumiriam ao dobrar uma esquina deixando no Brooklin rastros de sua cultura milenar e distante.

Lá se foi o judeu levando com ele a assadeira de burecas e quem sabe nela ía o sabor de um bairro todo novo.



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